Crédito da imagem: Pixabay

Revisão e preparação de texto são algumas das partes mais importantes ao enviar um manuscrito para a editora que você tem interesse e na hora de publicar.

Para ajudar os autores, conversamos com Naila Barboni Palú, escritora, preparadora e revisora de textos. Ela trouxe hoje 5 dicas que podem ajudar muito.

Domine a língua em que você escreve

Você não precisa se transformar no professor Pasquale ou ter o dicionário como livro de cabeceira, mas é importantíssimo que você domine a língua em que você escreve. Tudo vai ajudar: aprender gramática e ortografia, coesão e coerência, os erros mais comuns e como evitá-los etc. Não se preocupe muito em saber que aquela “oração subordinada substantiva objetiva direta” (ufa!) tem esse nome, mas saiba reconhecer quando uma frase está correta ou incorreta, qual o complemento que aquele verbo pede, se você usou determinada palavra no contexto certo e assim por diante. Além de ser uma grande conquista pessoal, você ainda faz bonito aos olhos dos profissionais que trabalharão em seu livro.

Cuidado com o tempo verbal

Em livros de ficção, principalmente, é uma questão de estilo você escrever no presente ou no passado. A palavra-chave aqui é OU. Preste atenção se você não está misturando os tempos verbais sem querer.

A situação a seguir é muito comum: o autor opta por escrever sua história no presente, porém, boa parte dos livros que ele lê são escritos no passado (e vice-e-versa). E o que acontece? Ele está tão acostumado a ler “fulano abriu os olhos”, “era tarde quando ciclano finalmente apareceu” que nem se dá conta que está misturando presente e passado no próprio texto. (“Estou trabalhando sem parar porque é final de ano, por isso estava fora de cogitação ir viajar para as festas.”)

Pode acontecer também de a história se passar no presente, mas o narrador contar algo que ocorre antes do que está sendo contado no momento. O autor utiliza os verbos no passado como deveria, mas, ao voltar para a cena do presente, continua usando o passado. (“Em 2018, fui para o Maranhão. Agora que estava no Nordeste novamente, quero reencontrar meus amigos.”)

Ou então ele opta por escrever no passado, mas, ao descrever uma situação futura à ação anterior, acaba utilizando o tempo verbal errado. (“Escrevi o e-mail para meu chefe sabendo que ele ficará bravo porque a notícia não era a que ele esperava.”)

Esses são apenas exemplos do que pode acontecer. E não é exclusivo dos textos de ficção, viu? Fiquem atentos!

Preste atenção às vírgulas

Eu sei, eu sei, vírgula pode ser um pé no saco. Mesmo quem trabalha com isso e gosta do que faz pode se frustrar com todas as regras, exceções e particularidades. Porém, tudo isso existe para fazer com que o texto seja o mais compreensível possível. O que é um saco de verdade é ler uma frase que está confusa ou com pausas desnecessárias porque as vírgulas foram usadas incorretamente. A título de exemplo, considere a frase “A moça de cabelos coloridos que conheci no dia anterior, me enviou uma mensagem, às dez, da manhã, para dizer que estava com saudade.”. A primeira e a terceira vírgulas não deveriam existir, e as outras duas são opcionais.

Repito que você não precisa se tornar PhD em linguística, mas é importante que você saiba, por exemplo, que:

– não se separa sujeito do verbo: ou seja, não se separa quem faz a ação da ação. Em frases curtas como “Maria olhou pela janela” é fácil identificar esses dois elementos (Maria – sujeito; olhou – verbo), mas e em uma frase extensa como “O motorista de ônibus que me levou para casa praticamente todos as noites durante um ano era muito simpático.”? Pois bem, o sujeito é O motorista de ônibus que me levou para casa praticamente todas as noites durante um ano; o verbo associado a ele é era.

– a locução “por favor” deve vir entre vírgulas: quando a gente pede algo para alguém, não fazemos uma pequena pausa entre o pedido e o “por favor”? Quando escrevemos, essa pausa é representada por uma vírgula. “Alguém me diga, por favor, o que está acontecendo.”; “Você pode me ajudar com a lição de casa, por favor?”.

– vocativo exige vírgula: é a mesma situação do “por favor”; quando chamamos alguém, há uma breve pausa entre o nome da pessoa e o restante da frase (“Matheus, preste atenção!”). Fique atento, pois nem sempre o vocativo é apenas o nome da pessoa ou uma única palavra, pode ser também uma forma de reconhecermos algo ou alguém (“Serviço de streaming de filmes que me faz companhia todos os dias, eu te amo!”).

Seja organizado

Isso serve tanto para suas ideias quanto para seus parágrafos. Com certeza você já leu algum parágrafo tão confusão, mas tão confuso que, além de você não entender bulhufas, você ainda achou que pudesse estar tendo um derrame. As redes sociais, por exemplo, estão recheadas de textos mal formulados. Claro que temos que levar em consideração, entre outras coisas, o grau de instrução de quem escreveu e que o tom utilizado nas redes sociais é muitas vezes informal. Mas quantos não são os tweets extremamente confusos de políticos e celebridades? Quer um exemplo (fictício, como todos os outros) capaz de dar dor de cabeça a qualquer preparador de texto? Ou qualquer pessoa que leia esse parágrafo, na verdade.

“O secretário disse que, para o presidente da companhia, o sistema implementado, inclusive no âmbito de relacionamento com os funcionários, a liquidação dos processos contra a empresa, o que, segundo ele, evidentemente afronta a competência do presidente, caso seja permitido aos empregados criticá-lo.”

Esse parágrafo ficou absurdo, não? Além de confuso, não passa informação alguma. É melhor você tomar o cuidado de organizar suas ideias e seus parágrafos.

Cheque tudo

Nas palavras da preparadora, coordenadora editorial, consultora e professora Ibraíma Dafonte Tavares, ser desconfiado é provavelmente a maior qualidade de um preparador de textos. Isso significa que, além de corrigir erros de ortografia, acentuação e sintaxe, padronizar o conteúdo, dar sentido ao texto etc., esse profissional deve desconfiar das informações apresentadas e checar dados duvidosos. Assim, se o preparador se deparar com a frase “Elvis Presley morreu em 16 de agosto de 1977”, ele vai checar para garantir que a informação esteja correta.

Mesmo que você saiba que seu livro vá passar por uma preparação de qualidade, não é mais seguro se você mesmo garantir que as informações estejam corretas? E não estou falando apenas de fatos históricos, por exemplo, mas de qualquer coisa que possa causar dúvida no leitor. Você está escrevendo um romance policial e precisa descrever um ferimento feito à bala. Será que, ao atingir um osso como o esterno, vai sangrar muito? Quanto tempo esse osso leva para cicatrizar? Se você faz questão de colocar essas informações em seu livro para enriquecê-lo, é melhor checar com um médico ou profissional forense, concorda? Até porque nem tudo pode ficar para o preparador.

Histórias nos permitem inventarmos o que quisermos, mas temos que ser conscientes. Já dizia o tio Ben: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”*. Nesse contexto, isso significa que, por mais ampla que seja sua liberdade criativa, você deve se atentar ao que é fato incontestável (exemplo: a Terra é redonda) e à verossimilhança, que é quando você olha para determinada situação de um livro e pensa: “Faz sentido!”, mesmo que seja uma fantasia e, portanto, impossível de acontecer na vida real.

Preocupar-se em checar tudo vai fazer com que sua história faça sentido e esteja correta. Como ninguém quer ser responsável por um texto sem sentido e incorreto, melhor tirar um tempinho para fazer essa checagem.

* Sabe por que coloquei esse asterisco (as-te-ris-co, não “asterístico”) ao final dessa frase? Para te dizer que, quando fui checar se estava correta, descobri que ela não teve origem no quadrinho criado pelo Stan Lee. Imagina se eu tivesse afirmado que a origem dela era na história do teioso, sendo que não é verdade? Teria pegado mal para mim, né?

Bônus: revise, revise, revise!

Você é o deus da sua história. Você a criou, então ninguém a conhece melhor do que você mesmo, certo? Dessa forma, também não há ninguém melhor do que você para garantir que tudo está nos conformes. Para evitar furos, erros de continuidade ou situações em que a personagem sai de uma sala sem antes ter entrado nela, por exemplo, você deve reler sua história quantas vezes for possível. Isso também vai servir para você corrigir erros de digitação, confirmar se você passou a mensagem que queria etc.

Sabe outra coisa muito útil que você vai tirar desse hábito? Você vai aprender a reconhecer seus erros e corrigi-los, aprimorar a própria escrita e evoluir cada vez mais como escritor. Portanto, revise, revise, revise!

***

Gostaram das dicas? Colocá-las em prática pode te ajudar muito na hora de escrever e revisar sua obra!

Para mais informação sobre a Naila Barboni Palú:

[email protected]

Facebook.com/naila.barboni

Instagram.com/nailabarbonipalu

Linkedin.com/in/naila-barboni-pal%C3%BA-722660174/

Por Teca Machado e Naila Barboni Palú