Como dar vida a todos os seus personagens

Um dos principais desafios que se colocam no meio caminho entre a inspiração inicial e a história pronta é dar vida aos personagens que povoam o texto que se pretende escrever. Com efeito, autores iniciantes tendem a reproduzir a si mesmos em seus personagens, fazendo-os como uma espécie de versão própria mal acabada, com diversas referências à usa própria trajetória de vida.

Para fugir dessa tentação, e conseguir personagens realmente mais diversos, com profundidade e efetivamente convincentes, é preciso que o autor adote uma postura atenta a outras pessoas, de modo a captar as suas características e formas de ver e lidar com o mundo para “emprestá-las” aos seus personagens. Nesse sentido, é útil buscar se colocar no lugar de uma pessoa conhecida com que se discorda sobre determinado assunto, e buscar entender a sua forma de pensar, de modo a poder replicá-la (integral ou parcialmente) em personagem em processo de criação.

Nesse processo de desenvolvimento de personagens e de composição de sua personalidade, não deve haver receios em “emprestar” a sua mente aos mesmos, mesmo a aqueles que são mais diferentes de você (possivelmente beirando à psicopatia). É no limite desse exercício de empatia com o diferente e de reprodução de suas peculiaridades como parte de um indivíduo, em outro contexto social (no caso, o da história que você pretende contar), que moram os personagens mais interessantes e cativantes.

As histórias mais bem sucedidas são justamente aquelas que trazem personagens realmente densos e convincentes, originais e ao mesmo tempo humanos, que colocam questões que mobilizam a maioria das pessoas. No entanto, há que se enfatizar: o autor deve dar o melhor de si para não se limitar a reproduzir a si mesmo, ou a outrem(ns), nos seus próprios personagens. Empenhar a sua imaginação na mediação entre as fontes de inspiração e a composição definitiva dos personagens é a profissão de fé que deve ser abraçada por todo aquele que deseja ser um escritor bem sucedido.