Imagem de janeb13 por Pixabay

Nunca é fácil começar. E na carreira de escritor é bem difícil. Geralmente um autor iniciante fica um tanto perdido, cheio de perguntas: Como escrever? Como publicar? Como divulgar? Como editar? Mas, felizmente, a internet é um local cheio de pessoas dispostas a ajudar e a dar dicas. Uma delas é Cristina Lasaitis, escritora e revisora que criou o Guia de Primeiros Socorros para o Escritor Iniciante.

 

Como percebeu que muita gente tinha dúvida nesse início de caminho, decidiu dar uma ajuda a todos que precisassem. Trago hoje um trecho que achei interessante.

 

Guia de Primeiros Socorros para o Escritor Iniciante

 

“O que preciso para me tornar um escritor profissional?”

 

Não existem fórmulas mágicas para isso. Tornar-se escritor é um desafio que você pega ou larga. É um aprendizado enorme, tortuoso, dá trabalho, toma tempo, e só vale a pena se você realmente ama o que faz. As dicas a seguir podem lhe ajudar a chegar lá:

 

1- Leia

 

Em primeiro lugar, o escritor é um leitor, portanto leia. Leia. Leia mais um pouco. Leia até ficar com dor de cabeça! Leia livros variados. Não deixe de ler clássicos e cânones da língua portuguesa (porque é a língua em que você escreve). Conheça as obras do gênero que você pretende escrever (p ex.: se quer escrever fantasia, pesquise sobre tudo o que já foi publicado em fantasia). E não apenas leia, estude com

os olhos de um escritor. Repare em como os autores desenvolvem as suas narrativas, tente visualizar a estrutura dos textos, preste atenção no trabalho de linguagem, perceba as sutilezas, sinta os efeitos… Pense sobre o que você leu. Extrapole as interpretações, pense sobre a mensagem do autor, o modo como ele a expôs e se deixou sugestões ocultas nas entrelinhas. Faça exercícios críticos. Compare autores. Descubra por que você gosta dos livros/autores que gosta, entenda quais os pontos fortes deles, e faça também o exercício de procurar defeitos nos seus livros/autores preferidos. Só a leitura irá afiar o seu senso crítico.

 

2- Conheça a sua língua

 

A língua portuguesa é uma tigresa indócil: gramática complexa, regras cheias de exceções, vocabulário vasto, reforma ortográfica recente… Você não é obrigado a saber tanto quanto o Professor Pasquale, mas deve ter conhecimento o bastante para escrever decentemente. Você pode pensar: “mas haverá um revisor lá na frente para corrigir os meus erros”. Sim, é verdade. Mas se o seu intuito é ser um escritor profissional, a língua portuguesa é o seu instrumento de trabalho, então busque ser profissional. Não vai doer se você anotar suas dúvidas de português, consultar dicionários, pegar os livros de gramática do colégio de vez em quando para estudar. Mesmo que você queira escrever suas narrativas numa linguagem

cotidiana, coloquial, é necessário ter o domínio da norma culta. O escritor precisa saber escrever certo para se dar a liberdade de escrever errado! E não se esqueça que a escrita é uma espécie de educação continuada. A língua é dinâmica, viva, você deve sempre se atualizar e acompanhar os seus movimentos.

 

3- E muito

 

Há autores que reservam um horário do dia para escrever e escrevem todos os dias. Tenha em mente que o aperfeiçoamento da escrita é lento, e se você procrastinar será mais lento ainda. Ademais, escritores profissionais não podem depender da inspiração para escrever. É como qualquer outra profissão: você deve trabalhar com chuva ou com sol, apaixonado ou com dor de barriga. Faça um esforço para escrever fora da sua zona de conforto, além da sua disposição e da inspiração.

 

4- Comece por narrativas curtas

 

Por mais ansioso que você esteja para escrever sua primeira trilogia épica, entenda que você só vai produzir uma boa trilogia (ou um romance que seja) quando tiver habilidade para isso. Por mais genial que seja sua história, ela irá se perder se você não souber como contá-la. Costumo dizer que o escritor iniciante que resolve escrever um romance logo de cara é como uma pessoa que nunca trabalhou na construção civil que de repente resolve erguer uma casa sozinha, dificilmente o trabalho ficará bom. Falta a habilidade e o conhecimento técnico das fundações, da estrutura. Por isso, antes de se pôr a elaborar romances, amadureça primeiro a sua escrita, escreva contos! Contos são um ótimo laboratório de escrita: são narrativas curtas, fáceis de serem levadas a cabo e são altamente experimentais. Escrevendo uma dúzia de contos você poderá testar diferentes estruturas, tempos verbais, narradores, estilos, linguagens, poderá provar diferentes gêneros literários, usar diversas receitas e até fazer invenções! Além disso, contos são exercícios de síntese, ensinam a cortar informações desnecessárias e evitar a prolixidade. Escrever contos lhe possibilitará ter um feedback rápido dos leitores (e, convenhamos, é mais fácil reescrever um conto do que um romance inteiro!). Através dos contos você poderá matar sua vontade de publicar em curto prazo, participando de antologias de autores. Dedique um tempo para amadurecer

as suas habilidades literárias até estabilizar um estilo próprio. Conforme adquirir confiança na sua escrita, você poderá se aventurar por narrativas cada vez mais longas.

 

5- Aprenda a ouvir críticas

 

Um escritor precisa de leitores, certo? E um escritor que queira vender precisa agradar a muitos leitores. Não estou dizendo que você vai escrever apenas em função de agradar, mas ainda que o que você tem a dizer não seja do agrado da maioria, o importante é que você escreva bem, que tenha algo importante a comunicar e que sua mensagem tenha o poder de tocar o leitor. Para aprimorar a sua escrita você precisa de opiniões, então não seja fresco: peça-as e escute-as! Seus pais, seus tios, seus amigos provavelmente vão dizer que você escreve bem e disso você pode concluir duas coisas: 1) eles não entendem nada de literatura, e/ou 2) eles amam você demais para perderem tempo sendo sinceros. Não, as pessoas próximas a você são suspeitas demais, não contam. Procure a opinião de pessoas com quem você não tem nenhum vínculo, que sejam leitoras habituais ou também escritoras, e que sejam mais experientes que você no ramo. E tenha em mente que não são elogios que lhe ajudarão a aprimorar a escrita: são as críticas! Alguém precisa lhe indicar os pontos fortes e fracos do seu texto, apontar tudo o que pode ser melhorado. Não seja defensivo, ouça abertamente, compare opiniões e pondere. Contratar um serviço de leitura crítica pode lhe ajudar bastante, sobretudo quando tiver interesse de encaminhar o seu manuscrito para uma editora.

 

6- Participe de oficinas

 

Nada melhor para interagir com outros autores do que participar de oficinas. Oficinas de escrita podem ser organizadas em escolas, universidades, bibliotecas… E mesmo que você more em Pirapora do Bom Jesus e seja o único escritor num raio de mil quilômetros, não se desespere, a internet faz maravilhas por você! É possível organizar uma oficina através de grupos de e-mail, e publicar os textos produzidos em blogs, sites e fanzines virtuais criados especialmente para isso. Por mais informal que seja, é interessante a roda se restringir a um grupo pequeno de escritores (cerca de 10 pessoas) dispostos a levar a sério as atividades. Para uma oficina funcionar, os membros propõem um texto a ser redigido (conto, crônica ou poema, dependendo do interesse do grupo) dentro de um tema, cada membro envia o seu texto e todos leem e emitem as suas opiniões. Na ausência de um cronograma de atividades, existem manuais de escrita que podem ser usados para conduzir oficinas. Geralmente as oficinas são comandadas por um escritor mais experiente, mas isso não é regra; um grupo de escritores iniciantes pode alcançar bons resultados pela simples troca de experiências e impressões. Em todo caso, oficinas são excelentes para o aperfeiçoamento da escrita e do senso crítico e é altamente recomendável que você participe de uma.

 

7- Postura profissional

 

Se você deseja ser um escritor profissional pode começar desde já a buscar uma postura profissional. Profissionais têm ética no seu trabalho e nas suas relações. Profissionais prestam serviços e desenvolvem produtos. Profissionais pesquisam o mercado em que estão se inserindo. Profissionais buscam excelência e inovação. Para o escritor profissional, o livro não é o seu filho, não é o seu ego, não é a sua extensão; o livro é meramente um produto. É duro falar assim de algo que tem um valor emocional imenso para o autor, mas a partir do momento que você procura uma editora, aceite que você tem um produto e quer vendê-lo. No escritório do editor o que conta não é o entusiasmo autoral, mas o potencial mercadológico. Não adianta dizer que o seu livro é especial, que é a coisa mais importante da sua vida; o editor pode lhe pedir para reescrevê-lo, para cortá-lo pela metade, para mudar o final, e você naturalmente pode não gostar. Se você não estiver preparado para tratar o seu livro como um produto, não está preparado para publicar.

 

***

 

Para ler o Guia de Primeiros Socorros para o Escritor Iniciante completo acesse aqui.

 

Por Teca Machado