Porque a literatura de cordel é tão importante para narrar a história do Brasil

A literatura de cordel talvez seja a mais importante e acessível forma de representação social que temos na literatura brasileira. Por ela, estão impresso através do processo de xilogravura que histórias de festas, política, secas, disputas, cangaço, atos de heroísmo, milagres e outras ações do sertanejo nordestino – e hoje não somente – ganham as ruas de feiras e são levados, a um custo muito baixo, aos leitores mais “desavisados” que podemos encontrar. Com uma linguagem discursiva que une a arte visual rústica e o texto em boas rimas, o cordel acabou ganhando status de expressão artística das melhores. Falamos aqui de uma das melhores roupagens que a literatura oral brasileira ganhou para narrar mitos e provérbios de nossa cultura.

Quando o cordel chega ao Brasil?

Na verdade, quando falamos em literatura de cordel não estamos falando em uma forma de expressão artística que nasceu no Brasil. Partindo dos povos conquistadores, o cordel chegou à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do século XVI, e chegou ao Brasil com os colonizadores no séc. XVII. Por Salvador ter sido a primeira capital do Brasil, é lá que a literatura de cordel tem seu berço. Não fosse a vinda do xilo para o popular e sua disseminação pelo nordeste brasileiro, boa parte de nossa história teria passado somente pelos veículos oficiais da colônia.

Como é feita a xilogravura?

O traço visual mais marcante do cordel é a técnica de impressão através da xilogravura. Nela, as ilustrações por vezes rústicas e feitas à mão em placas são transferidas ao papel de forma artesanal. Primeiramente o desenho é passado para uma base em madeira que servirá como molde para que a tinta seja transferida para o papel. A técnica já existe desde o séc. VIII, quando era utilizada na China para a representação de budistas e livros xilográficos. Já no Brasil, a técnica chega com a vinda da família real e da imprensa régia em 1808. Uma característica interessante é que, somente no nordeste brasileiro é que o xilo deixou as “redações” e ganhou o popular, adquirindo identidade própria em folhetos de cordel.

Autores consagrados

Um dos maiores nomes do cordel brasileiro é o repentista Leandro Gomes de Barros (1865-1918), que produziu aproximadamente 1 mil cordéis durante a vida. Quando citamos os mais recentes é impossível citar nomes como José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira. Merece destaque também José Francisco Borges, cordelista há mais de 50 anos. o pernambucano é um dos xilogravistas mais famosos do país e ficou conhecido nacionalmente pela vinheta de abertura da novela Cordel Encantado, da Rede Globo.

Dicionário de Cordel

Como todo estilo literário tem um discurso próprio, com a literatura de cordel não poderia ser diferente. Além de contar com traços marcantes no campo das ilustrações, a estrutura também recebe atenção de repentes. Cada estrutura diferente ganha uma denominação.

  • Quadra: estrofe de quatro versos.
  • Sextilha: estrofe de seis versos.
  • Septilha: é a mais rara, pois é composta por sete versos.
  • Oitava: estrofe de oito versos.
  • Quadrão: os três primeiros versos rimam entre si; o quarto com o oitavo, e o quinto, o sexto e o sétimo também entre si.
  • Décima: estrofe de dez versos.
  • Martelo: estrofes formadas por decassílabos (comuns em desafios e versos heroicos).